2012-03-23

Reunir ou não reunir?

Um dos hábitos mais arraigados do burocrata é a reunião de trabalho. Se é interna e entre um tomador de decisão e um (ou mais) não-tomador de decisão chama-se despacho. Quando é com convidados externos ou funcionário de outros setor, é reunião. Pra simplificar, chamarei tudo de reunião.

A reunião é uma invenção pré-escrita (para não dizer pré-histórica). Antes da repartição pública, o chefe de tribo neandertal se reunia com os não-chefes para decidir como seria a caça ao mamute. Talvez não houvesse o cafezinho servido pela secretária ou os infindáveis documentos para assinar, mas o princípio era o mesmo.

O princípio da reunião de trabalho parece, em tese, positivo: um método ágil para discutir, resolver problemas, tomar decisões em conjunto. O que, às vezes, deve ocorrer. Digo "às vezes" e "deve" porque não me recordo de ter presenciado uma que fosse ágil, mas isso certamente é meu confirmation bias. Tentando retirar um pouco desse bias, ainda assim vou assumir que há uma parcela significativa de reuniões maçantes, longas e inúteis. São elas que tornaram um lugar comum dizer "detesto reunião".

Claro que se eu soubesse como reuniões de trabalho podem ficar legais poderia estar rico vendendo livros picaretas do tipo "Como fazer reuniões eficientes". Mas minha misantropia eventual e desgosto pela sensação de perda de tempo causada pelo outro me faz pensar mais em meios de evitar as reuniões, não em como torná-las melhores. (Na verdade, não tenho muito a reclamar porque essa mesma misantropia e ausência de poder burocrático não me fazem um participante recorrente de reuniões.) Se milhares de anos de civilização ainda não aperfeiçoaram o processo, a tarefa me parece fútil.

Voltando a como evitar reuniões, especialmente para assuntos não urgentes, me ocorrem os meios mais óbvios: e-mail, email, Email, E-mail. A tecnologia não é exatamente recente ou inovadora. Na pior das hipóteses, a maioria dos adultos (usuários de internet) no Brasil começou a usá-la por volta do ano 2000 ou antes (e alguns ainda mantém suas contas hotmail). Para reuniões que não envolvem nenhum assunto sigiloso (ainda que e-mail possa ser seguro), a tecnologia é adequada e confiável, só ainda não tão popular quanto o blablablá regado a água, café e biscoitos.

Sem medo de ser parcial e temendo falar o óbvio ululante, listo apenas as desvantagens de utilizar a escrita como substituta da reunião: 1) a escrita é mais lenta que a fala para trocar informação; e 2) é uma tecnologia mais difícil de dominar (fala é 100% natural). A lentidão da escrita não tem lá uma boa solução e vamos aceitá-la como fato da vida, especialmente para aqueles que digitam com dois ou três dedos e gostam de revisar o que escreveram. Já a dificuldade em dominar a escrita (whatever that means) parece ser semelhante à não ser "bom de conversa". Não pegando os extremos de escritor ou de líder político, a maioria das pessoas com 11 ou mais anos de educação formal fica próximo ao "Tive um sonho que era Machado de Assis" e "Oxalá fosse eu um Martin Luther King". Em qualquer um dos casos, a comunicação acontece, ainda que com algumas idas e vindas extras e eventuais desentendimentos.

Ainda com esses e outros problemas, quase sempre prefiro o e-mail à boa, velha e sobrevalorizada interação humana com hora marcada. Talvez talvez a idéia ainda precise de alguns milênios para pegar. Ou que surja um Homo burocraticus 2.0.

Um comentário:

  1. O que você acharia então das reuniões infindáveis de departamentos nas universidades? Além das fofocas eventuais, há discórdia (ao menos alguma emoção), vendas e compras diversas (sim, mesmo entre os professores universitários), soberba ("eu fiz mestrado e doutorado em tal lugar, então, cala a boca"!) e fotos dos filhos recem nascidos e o compartilhamento das mesmas nas mídias sociais.
    Voce está no lucro, garanto!

    ResponderExcluir