2012-08-28

Greve na CAPES: ouviu alguma coisa?

A greve na CAPES chega ao fim de fato, ainda que não esteja encerrada por decisão da assembléia de servidores. Talvez na quarta-feira, 29/08. Os servidores aceitaram a proposta de reajuste salarial do governo e agora torcem para que os outros órgãos da carreira também aceitem. 15,8% é pouco, mas é 15,8% a mais que zero. Talvez dê pra fazer uma nova prestação a partir de janeiro.

O resultado da greve foi uma vitória? Sim, parcial.O aumento será apenas no vencimento básico (o famoso VB). Nada de gratificações temporárias ou aumento das gratificações já existentes. Algumas carreiras não conseguiram o aumento todo no VB. Já as agências reguladoras (ANA, Anatel, Antaq, etc) tiveram a oferta do aumento mais a transformação em parcela única, o tão sonhado subsídio. Claro, eles querem o salário da carreira de gestão, mas o subsídio já é mais do que a maioria das carreiras sonham. É o lado bom e ruim de se viver numa democracia capitalista: sempre se pode espernear e pedir mais, ainda que o vizinho esteja pior que você. Ou se quiserem um clichê: quem não chora, não mama.

Só que o choro da carreira de Ciência e Tecnologia é, no máximo, um choramingo quase inaudível. Desses que os pais ficam na dúvida se é choro ou um outro barulho estranho que bebês fazem e que depois ficam inaceitáveis socialmente quando crescem. A greve dos servidores da CAPES nem chega a isso. A analogia melhor é a de um conhecido Gedankenexperiment: "Uma árvore cai no meio da floresta, mas não há ninguém por perto para ouvir. Ela fez som?"

Se fez, quem nos ouviu? Essencialmente, apenas bolsistas CAPES. Ouviram e ficaram receosos (e putos da vida) de possivelmente terem bolsas atrasadas. Um receio amplamente justificado porque a CAPES já tem a reputação de atrasar bolsas. A greve pioraria, afetaria essa situação? Ainda é cedo pra dizer porque a greve foi curta e o período de pagamento de bolsas, os primeiros dias úteis do mês, ainda não chegaram. Minha aposta é de que o impacto será mínimo no pagamento de bolsas. Como será mínimo em muitos outros setores. A greve será vista pelo público da CAPES como um inconveniente. Como se alguns servidores tivessem tirado férias ou estivessem afastados por duas semanas.

E nosso problema não foi adesão. Aproximadamente 100 servidores estiveram de greve. Somos 300 e tantos no total: uns 80 têm cargos comissionados, outros tanto são substitutos dos titulares dos cargos comissionados e uns outros tantos não fazem greve por diversos motivos. Nossa aproximação é de que 80% dos servidores que poderiam fazer greve, i.e., não-chefes e que estão ativos na instituição, entraram de greve.

Pretty good, right? Seria, mas apenas num mundo em que a direção da CAPES tivesse balls para querer trabalhar com pessoas que podem dizer não quando necessário e que poderiam se sentir estimuladas a trabalhar porque acham que fazem alguma diferença. Infelizmente, prefere a covardia e comodidade de trabalhadores temporários, sem carreira e que tendem a obedecer ordens cegamente e não fazer greve.

O pior é que o esquema funciona. Fica tudo meia boca, mas funciona.

Um comentário:

  1. ah, as tão famosas balls que acabam por emperrar o cotidiano em tantas esferas (há, e não é que até virou uma piadinha infame...).

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