2012-02-07

Você sabe o que é um cabineiro?

 Eu não sabia até uns dois anos atrás. É o mesmo que ascensorista ou operador de elevador. Para os que não sabem, os ascensoristas ainda existem, especialmente nos prédios públicos em Brasília. Pode-se pensar que estes elevadores que precisam de operadores devem ser contemporâneos da fundação de Brasília, certo? Daqueles com grades, botões de pressão, que vivem dando problema e que causam mortes horríveis nos filmes de terror B.

Não mesmo. Alguns mais velhos que outros, mas completamente automatizados. Os mais modernos com TV, indicador visual e até síntese de fala para deficientes visuais. Podem dar bom dia e informar a temperatura.

Seriam então estes ascensoristas funcionários antigos dos órgãos públicos que estavam na função, ainda não se aponsentaram e, por algum motivo obscuro, não foram reenquadrados em outra função mais produtiva? Também não. Os ascensoristas são funcionários terceirizados e contratados para serem ascensoristas. Uma busca no Diário Oficial para com o termo "ascensorista" encontra seis contratações e avisos de licitação este ano (concedo que um dos contratos encontrados, e excluído da lista, é para operação de um elevador de passarela de travessia de pedestres de uma estrada e pode ser realmente necessário para controlar um grande fluxo de pessoas, mas não para apertar os botões).

E pra que seriam contratados os ascensoristas realmente? Controlar o fluxo de pessoas? Os órgãos governamentais não tem elevadores como o Lacerda, em Salvador. Nem mesmo elevadores que caibam mais de duas dezenas de pessoas. Talvez para auxiliar no transporte de cargas e documentos? Os processos ainda são de papel, afinal. Até poderiam, mas geralmente não é o caso, os ascensoristas operam principalmente os elevadores que não são os de carga, i.e., os com espelho.

Talvez por motivos de segurança, como comissários de bordo num avião? Também não. Os elevadores têm sistemas de alarme, de comunicação e o resgate de pessoas de um elevador com problema deve ser feito por bombeiros, não ascensoristas.

A razão, raramente explicitada por escrito, mas amplamente conhecida, é que são contratados para servir os dirigentes. Não só perguntar qual o andar e apertar o botão, como fazê-lo ir direto para o andar de destino. Para deixar o elevador à espera do dirigente chegar (e ficar fora de uso) para que não se espere um ou dois minutos pelo elevador.

Também na CAPES existiam até pouco tempo atrás. A empresa que prestava o serviço teve problemas e o contrato foi cancelado. Era um contrato de R$82.635,00 ao ano, o suficiente para bancar quase 46 bolsas de doutorado, i.e., quase quatro anos de bolsa de um doutorando com bolsa CAPES.

É pouco perto das dezenas de milhares de bolsas da CAPES? Sim. Mas é um custo desnecessário. Um capricho de uma burocracia com hábitos de 50 anos atrás. Que não consegue acabar com setores para preparar e distribuir café mesmo quando existem máquinas automáticas de café. Que acha perfeitamente normal que secretárias sirvam água, café para servidores ocupantes de cargos comissionados. De que adianta trocar a palavra chefe por coordenador, gerente por gestor, falar de resultados, mas continuar com este tipo de gasto fútil e constrangedor?

Antes de começar a escrever o post procurei pelo termo "elevator operator" na Wikipedia. Um artigo curto, meio abandonado. Lista alguns poucos edifícios nos EUA onde ainda existem ascensoristas. Lista também os usos especializados em situações de segurança ou em que a operação é realmente necessária. São ou muito mais que apertadores de botão ou uma relíquia turística. Em Brasília, são uma lembrança vergonhosa de que ainda há muitos empregos para a mais banal das tarefas e uma cultura governamental que tem dificuldade em se modernizar de fato.

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