2012-02-03

Back in the day

Numa dessas buscas que a gente faz e não se lembra por que começou a fazer, encontrei este artigo de um ex-dirigente da CAPES no governo militar (1979-82). É um tempo diferente e um retrato bem parcial, mas as comparações são inevitáveis.

Alguns trechos:

"[...] se a honestidade era perseguida com fervor, a legalidade
era impossível, dada a rigidez das regras do serviço público. Metade dos
nossos funcionários era de carreira. O resto era emprestado ou contratado
por via das fundações universitárias."


Continuamos com aproximadamente metade dos funcionários de carreira, só a forma de contratar os não-pemanentes mudou de fundação para empresas de terceirização. Agora usa-se também o rótulo de "apoio administrattivo", mas a maioria destes funcionários terceirizados realizam tarefas idênticas às dos servidores da carreira permanente.

"Um ou outro político vinha pedir bolsas para
seus apaniguados. A estratégia já estava mapeada. Eram gentilmente atendidos,
anotávamos o pedido e dizíamos que seria analisado. Se aprovado
pela comissão de consultores, qual o problema? Se recusado, poucos candidatos
tinham o poder de fogo para voltar ao político amigo. Nosso único
pecado, venial, era aceitar os pedidos fora de prazo. Mas se o pretendente
ganha a bolsa pelos seus méritos, um par de semanas de desrespeito pelos
prazos não é um pecado grave."


Os pedidos fora de prazo continuam, o tratamento dado a eles é variável. Felizmente, hoje o servidor de carreira pode denunciar esses desrespeitos ao prazo que causam prejuízos a terceiros. Para a imprensa ou para alguém num cargo que paga maior gratificação do que quem deu a autorização (sempre há alguém). Se fazem? Acho que a maioria não.

"[...] diante da expansão dos programas, tornou-se problemático conceder individualmente
milhares de bolsas com uma equipe pequena e diante da decisão
de não criar uma grande burocracia. Melhor seria distribuir cotas de bolsas
para os melhores cursos e deixar que eles próprios escolhessem seus alunos.
Mas para decidir o tamanho das cotas a serem alocadas a um número de
programas que já ultrapassava mil, seria necessário avaliá-los. Daí o nascimento
de um mecanismo inicial de avaliação, usando o chamado julgamento
dos pares. Isto é, quem avaliaria os cursos seriam consultores selecionados
dentro da própria comunidade científica."


Hoje a CAPES continua avaliando, distribuindo cotas de bolsas, mas paga diretamente os bolsistas. E a máquina burocrática continua pequena. E os milhares estão na casa dos 50 mil e crescendo. Mesmo que a informatização tenha aumentado, a percepção é de que é longe de ser suficiente para dar conta. A sensação de se estar sempre no limite é constante.

"Quando veio a onda da reorganização,
o que fizemos foi simples. Antonio MacDowell, o incurável engenheiro
do ITA, foi encarregado de entrevistar todos os funcionários, perguntar
o que faziam, em quem mandavam e quem mandava neles. Com essa
pesquisa de campo, desenhou o nosso organograma, colocando no papel,
rigorosamente, o que estava acontecendo no mundo real. A reorganização
deu certo porque ninguém mudou de posição para corresponder ao organograma.
Pelo contrário, estavam lá porque foi a melhor solução encontrada
nas inúmeras experimentações que fazíamos. O organograma era a mera
representação no papel do organograma informal que prevalecia."


Nem pensar em fazer algo do tipo hoje. As reorganizações, jamais amplamente divulgadas, são pensadas top-down e para encaixar pessoas em cargos. Hoje o informal é muito pequeno porque não se ousa desviar muito do formal, mesmo que não seja o mais eficiente. No máximo, o informal existe com cargos deslocados.

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