2012-02-01

O argumento da experiência

Um argumento que ouço com freqüência é o da experiência: "Fulano tem cargo de nível médio, mas tem muita experiência e faz um trabalho muito melhor que de muita gente que tem cargo de nível superior." O argumento pode ser verdadeiro em alguns casos: há excelente assistentes e analistas medíocres (como medir isso objetivamente é outra história). A situação talvez seja até mais comum com servidores públicos que ingressaram antes de 88, quando os concursos públicos eram raros e as contratações  precárias e mais personalizadas. As indicações políticas, favores, apadrinhamentos e dificuldades quaisquer em contratar podem ter gerado situações em que o mérito não era um fator relevante nas contratações.

Mas os LPs saíram de moda, não há mais hiperinflação e a guerra fria é uma ficção de vídeo games (só o Sarney continua na ativa) . Há mais de 20 anos a regra do concurso público obrigatório para cargos efetivos já vale. Hoje, a grande maioria dos candidatos a vagas em carreiras públicas federais concluiu a educação superior. O motivo óbvio é a maior possibilidade de aprovação: um concurso com conteúdo mais fácil e com concorrentes percebidos como mais fracos que os concorrentes de concursos de carreiras de nível superior. Motivo perfeitamente racional: prefiro ter maior chance de ter um salário menor do que ter uma menor chance de um salário maior. O velho pássaro na mão. Especialmente porque o objetivo é concorrer, no futuro, a um cargo melhor.

Só que como todos entraram por concurso público, com exigências e grau de dificuldade distintos, o que ocorre é que os analistas têm, a priori, mais mérito (e responsabilidade e salário) que os assistentes. Na prática, é de se esperar que também que analistas tenham desempenho, na média, superior ao de assistentes para as tarefas típicas de analistas. E é aí que a comparação que citei inicialmente falha. Especialmente quando a comparação é feita para servidores pós-88, está se comparando o assistente na cauda direita da curva, i.e., o mais bem preparado, com o analista do lado esquerdo da curva, i.e., o fraco. Está se comparando a exceção de um extremo com a exceção do extremo oposto. Apples and oranges, cherry picking, confirmation bias, take you pick. Só não faça o outlier virar média.

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