2013-03-18

As dez razões para se comprar um iPad para os burocratas

1 - iPads são chiques. O brasileiro tem de deixar de lado a síndrome de vira-lata. Por quê temos de ficar eternamente com produtos de nomes obscuros, mais baratos e sem nenhum glamour? O burocrata brasileiro, que, como princípio geral, não precisa ter competência técnica pro seu cargo comissionado, merece o melhor tablet possível do mercado. Mostrarei porque o iPad é o melhor tablet do mercado.

2 - iPads têm uma tela maravilhosa. E como nossos burocratas vão usar justamente pra visualizar gráficos feitos no Microsoft Excel com altíssima resolução, a tela do iPad é um must.

3 - iPads vêm na cor branca. Sei que o motivo parece fútil, mas só para os que não entendem do assunto. A cor branca do iPad vai refletir mais luz solar e o iPad vai esquentar menos. O branco também combina com o branco dos carros oficiais e da camisa dos burocratas. Questão de identidade visual, essencial para as organizações do mundo globalizado do terceiro milênio.

4 - iPads obedecem comandos de voz em inglês com o Siri (o acento é na primeira sílaba). Os desinformados podem não saber, mas, com o Ciência sem Fronteiras, a ordem do dia é falar inglês. Como os estudantes não estão aprendendo inglês do dia pra noite como quer o governo, os burocratas vão aprender na marra. Ou falam inglês ou o iPad não funciona! Fair enough.

5 - iPads têm sistema operacional proprietário. Esse motivo não é muito intuitivo, eu assumo, mas vamos lá. Esqueçam toda essa história de software livre, o Portal do Software Público. Ninguém aguenta mais essa mania ridícula de alguns órgãos públicos de usar Open Office só pra não comprar os aplicativos da Microsoft. Quando me falam em usar Skype pra economizar na conta telefônica, dá vontade de esfaquear, metaforicamente, a mandíbula do camarada. Um sistema operacional proprietário não irá permitir que engraçadinhos do setor de informática do governo personalizem ou aperfeiçoem o sistema operacional ou uso dos tablets. Muito menos lançar aplicativos que não sejam aprovados pela Apple. Um sistema operacional proprietário garante que tudo funcione sem erros, ou só com os erros que a Apple permitir, o que é especialmente importante porque ninguém vai assumir qualquer erro, claro. Last, but not least, não há o risco da Apple começar a ficar mal das pernas e iPads virarem itens de museu. A idéia acertada é colocar todas as fichas no equipamento proprietário de uma única empresa e ter fé porque deus é brasileiro, ainda que o procurador dele seja argentino.

6 - iPads não possuem armazenagem externa, i.e., cartões de memória. "Mas cartão de memória não seria uma boa?", um leigo argumentaria. Nananimnanão. Cartão de memória requer uma abertura no equipamento. Toda a elegância, design, beleza suprema do iPad seria arruinada por um buraco fora do lugar que serviria para acumular poeira. E já viram a poeira vermelha de Brasília? Com as conexões 4G e wi-fi disponíveis em qualquer lugar no Brasil, a transferência de vários Gigabytes de dados pode ser feita muito mais rapidamente via rede do que os cinco segundos gastos para trocar um cartão de memória. Totally future proof.

7 - iPads não podem ter aplicativos pornográficos. Internet e pornografia é o elefante na sala de jantar mais pervasivo da modernidade. Como homens ainda são maioria em cargos comissionados no serviço público, seria impossível evitar que um ou outro utilizasse os tablets funcionais para ajudar a aliviar o estresse pós-reunião. Mas não com um iPad. Vão ter de se contentar com seus dispositivos pessoais Android de segunda classe. Nem adianta tentar usar o browser porque os sites em Flash não vão funcionar. Supostamente.

8 - iPads têm mais e melhores jogos. Mas pra quê jogos em tablets corporativos? Para explicar esse ponto é necessário revelar aos contribuintes o que é uma obviedade para os burocratas: reuniões de trabalho entre burocratas são longas e entediantes. Nos piores casos, e nessas é que os jogos serão essenciais, um burocrata fala, apresenta slides de Powerpoint e os outros fingem que escutam, mas, no fundo, não têm o menor interesse pelo que o outro tem a dizer. Assim, esses que escutam precisam de uma atividade durante a reunião ou correm o risco de ter morte neuronal, pela ausência de uso do cérebro por períodos prolongados, e de sofrerem lesões músculo-esqueléticas causadas por adormecimento repentino em posição desconfortável. No passado, palavras cruzadas, desenhos e textos variados eram as atividades mais populares. Com um tablet, todas essas opções estarão disponíveis e mais GTA IV, Need for Speed, Angry Birds, etc. Com um iPad será possível ter uma plataforma que estimule memória, coordenação motora, atenção e o que for mais preciso para manter a saúde mental do burocrata durante uma carreira de intermináveis reuniões.

9 - iPads têm a tela altamente refletiva. Esse é uma razão assumidamente fútil, em grande parte, mas não totalmente. Um tablet com tela reflexiva pode servir de espelho mesmo sem energia. Para aqueles momentos em que é necessário retocar a maquiagem, ajeitar o penteado. Pra quê perder tempo indo ao banheiro ou pegando o espelho na bolsa. O tablet já está lá, vá em frente e use-o para garantir que a gravata está no lugar e que o rímel não está borrado. Aparência é tudo, não é o que dizem?

10 - iPads têm um cabo de energia exclusivo e incompatível com qualquer outro tablet do mercado, incluindo iPads anteriores. Novamente uma aparente desvantagem que é uma vantagem. Um cabo exclusivo significa, em primeiro lugar, exclusividade. Já vimos na razão 5 a importância do contribuinte pagar para que os burocratas utilizem um tablet de sistema proprietário e fechado. Nada mais natural que esse monopólio de fornecedor se estenda até os cabos de energia. Não dá pra que qualquer cabo possa ser plugado num lindo iPad de última geração. Imaginem um tablet em que o cabo de alimentação seja facilmente substituível ou, o horror, possa ser compartilhado com outros aparelhos como celulares corporativos. Tal cabo compartilhado poderia transmitir até vírus ou sabe-se lá o quê mais. Melhor não arriscar.


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