2013-04-08

Rapidinha: sonhar ou perder?

Hoje assisti a uma palestra sobre gestão ontológica (quando googlei, a sugestão foi "questão ontológica"). Falou-se das organizações, de indivíduos, de clientes, de competências, de compromissos. Teve até filme  no estilo Khan Academy. Entre tantas perguntas retóricas e afirmações motivadoras, uma me incomodou: "Você pode ser o que quiser, se esse for o seu sonho." Provavelmente numa forma mais articulada, mas em essência foi isso.

Sobre a parte de "poder ser o que você quiser", deixo o assunto para outro dia. Livre arbítrio é um dos meus tópicos favoritos, mas merece mais trabalho. O que me interessou hoje foi a parte do sonho, objetivo de vida. O famoso "o que você quer ser quando crescer" vitaminado. Aquilo que você vai usar como justificativa das suas escolhas profissionais e pessoais. Pessoalmente, fico geralmente contemplativo quando alguém me conta esse tipo de sonho, mas hoje, no contexto da palestra, me perguntei: "Se é para sonhar, por que alguém sonharia menos que o máximo possível?"

Se você sonha em ser um político, seu sonho deve ser o de alcançar o cargo máximo de um político no seu país: presidente ou primeiro ministro (ditador para os sociopatas). Se você quer ser cientista, é ganhar um Nobel. Ou três, já que teve gente que ganhou dois. Se quer ser rico, qual seria o limite? O mais rico do planeta? Por quê iria querer parar em cinco bilhões de dólares?

Como exercício, vamos pensar no que aconteceria se as pessoas sempre sonhassem alto e agissem de acordo com esse sonho. Que tal um milhão de empreendedores que só tenham o objetivo de ser o mais rico entre todos? As práticas empresariais deles seriam honestas e éticas? Ou todos os cientistas querendo apenas múltiplos prêmios Nobel. Será que iriam querer dar uma única aula na vida? Milhares de políticos querendo o cargo máximo do executivo é indecente demais para descrever.

Obviamente nem todo mundo sonha ou sonha no máximo e o objetivo dos coachs e motivadores é fazer você se sentir especial por sonhar alto. Se os outros não sonham tão alto, azar deles. Depois é só fazer parecer com que tudo dependa só de você, da sua vontade, das suas ações. Fatores externos podem ser excluídos, contexto sócio-histórico é desculpa. Se não der certo, foi você que não fez ou quis o bastante (não teve fé?). Se você ajusta seus sonhos à sua realidade, ou não pensa obsessivamente no futuro que provavelmente não vai acontecer, você se torna um conformado, um perdedor. E todo fracasso será culpa exclusivamente sua.

Antes perdedor que cruel.


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