Quando rompi com CC, a relação já tinha muitos anos, estávamos
unidos desde a minha primeira infância. Meus pais dizem que gostei dela desde o
início: adoração completa, uma sede de quero mais. Nessa inseparabilidade,
estivemos juntos até meu último ano na universidade. Talvez alguns casamentos
durem mais que isso, mas e daí? Para mim, foi uma eternidade. Sempre achei que
nunca iria desistir dela, que ela me acompanharia onde eu estivesse, em
qualquer situação.
O rompimento não foi brusco nem bem delimitado temporalmente.
Talvez porque nenhum acontecimento extraordinário tenha precipitado o fim.
Também não houve um fim antecipadamente anunciado. Nem drama intenso, nem
sofrimento prolongado. Lembro que não era falta de desejo. Aconteceu que me dei
conta de que a relação não seria eterna, não teria nem um longo prazo. Estava
entrando em um novo ciclo de vida e ela precisava ficar para trás. Tentei não
pensar demais no fim, não avaliar prós e contras. Ainda que o vínculo fosse
antigo, o resto da minha vida era mais importante. Iria acabar, precisava
acabar.
Nos primeiros dias, a falta dela era visível. Precisei de um
autocontrole que nunca tinha praticado. Tragicamente, o autocontrole faltava
por culpa dela, que estava sempre ao meu lado e era também minha fonte
principal de autocontrole. Sinuca de bico, catch 22, tudo indicava que nosso
rompimento não aconteceria. Muitos amigos disseram que eu não conseguiria, que
meu apego a ela era forte demais. Minha fraqueza por CC sempre foi ululante e
assumida.
A solução foi trocá-la por uma mais nova. Uma prima mais nova de
CC! Por tradição familiar ainda tinham o primeiro mesmo nome: meu futuro seria
com CZ. Talvez tenham dito que eu era insano, fora da casinha mesmo. Para mim
era natural. Se fosse um matemático, desenvolveria uma lógica para me
justificar. A semelhança física entre CC e CZ ajudou. A cintura fina de CZ fez
um mundo de diferença. A novidade e a beleza exótica fecharam o pacote. Era um
rompimento, mas sem vandalismo.
Os clichês foram inevitáveis. Tive recaídas com a ex e senti uma
culpa cristã que nunca tive. Não eram diárias e eu tentava me justificar.
Culpei os dias de calor, quando CC aparecia onde eu estivesse com suas curvas e
toda de vermelho: única e inebriante. Cintura fina e corpo de modelo eram uma
delícia também, mas as curvas de CC tiram muita gente do sério. Era penoso tentar
ser a exceção. CC sabia da prima, que também sabia do desejo que CC me
despertava. CC sabia que hábitos antigos são difíceis de superar e, na sua
autoconfiança inabalável, sabia que eu vacilaria de vez em quando. A prima CZ,
ainda que pudesse estar insegura, sabia do meu comprometimento com a mudança. Mas
sabia também que, por ser mais nova em minha vida, eu iria precisar de um tempo
até me sentir conquistado.
Pensei até em ter o melhor dos dois mundos. Às vezes as curvas e a
intensidade de CC, em outras, o corpo ideal de CZ e uma suavidade que me fazia
querer sempre mais. Mas eu sabia que seria uma atitude covarde, uma
infidelidade que teria de justificar socialmente a todo momento. A ex precisava
ficar na memória, eu precisava chegar a um estado que não cedesse ao desejo,
que não precisasse nem resistir. Em mais uma estratégia para me afastar de CC,
conheci outras. Experimentei bastante, repetidamente com algumas até. Talvez
uma terceira que não fosse relacionada às duas primas me ajudasse a superar a
ex. Algumas tinham as curvas de CC, outras aproximavam o ideal de magreza de CZ,
mas nenhuma me despertava um desejo que eu sentisse ser duradouro. Foram
passatempos.
A mudança aconteceu. Em alguns meses, já estava completamente
habituado e desejando intensamente CZ. Mesmo nos dias quentes, ela já ficava
deliciosa em seu pretinho básico. A ausência de curvas era uma saudade, mas
dessas que não dura mais que dois segundos e meio. Não era que eu já me
considerava um entusiasta das retas, mas na minha nova vida era mandatório que
eu estivesse longe de CC para ser mais saudável. As curvas haviam ficado no
retrovisor, as retas se estendiam no limite do horizonte.
A relação com CZ já dura muitos anos. Já é sólida, íntima e ainda
com aquele gosto de que nunca irá acabar. Objetivamente sei que é uma
improbabilidade, mas nem penso em alternativas. Ainda assim, sou humano e às
vezes preciso de YOLO (You Only Live Once). Não são encontros planejados, nem me
causam mais culpa. Nos piores dias do verão, os encontros ocasionais com CC, sempre
de vermelho, refrescam a minha memória e meu desejo. Com CC, sempre ao meu
alcance, revivo o passado de prazeres. Agora, o que era uma dificuldade em
abandonar o passado tornou-se o eventual delicioso, exótico e não planejado. A
eternidade não era possível com CC, mas minha vida com CZ ainda é as good as it gets.
Quase hora do almoço e já começo a pensar no encontro habitual com
CZ. É um dia mais frio que o normal e a lembrança de CC não deveria ter
retornado. Mas não quero que a excepcionalidade seja previsível. Hoje vai ser Coca Cola, não Coca Zero.
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