2013-01-25

Mordomia ou vergonha alheia?

A rádio esplanada me contou de uma agência estatal que contratou vários garçons para servir café, chá e água para os servidores. Não apenas para VIPs nas cadeiras numeradas ou na Tribuna de Honra, mas para a arquibancada comum também (ouvi falar que a geral não existe mais).

Funciona assim: o garçom passa com um carrinho com as bebidas pelas mesas 4 vezes por dia. Além desses quatro atendimentos, um copo com água é colocado na mesa dos que quiserem no começo do dia. Parece que estão todos gostando. Claro, quem não gosta de ser servido sem pagar nada diretamente? Como se estivesse num café trabalhando sem pagar pela bebida nem dar gorjeta.

Fico imaginando o que a maioria das pessoas do tal órgão pensa sobre o assunto. Melhor, o que a maioria pensaria se parar para pensar no assunto. Como o exercício de achismo e leitura de mente é fútil, fiquemos mais próximos dos fatos. Ao menos com os fatos reinterpretados pelo meu cérebro.

Há, inegavelmente, uma situação excepcional. A maioria dos servidores públicos não tem café servido na mesa (e nenhum bebe café decente no local de trabalho), especialmente os que não ocupam cargo. E essa excepcionalidade é necessária ou supérflua? Um exemplo a ser copiado ou motivo de vergonha pra administração?

Os que já saíram da ilha da fantasia (Brasília) ou do continente da desigualdade social (Brasil) costumam sabem que ter garçons (ou ascensoristas) no local de trabalho não é usual. Além de raro, remete a uma época de privilégios, gastos desnecessários, época de desigualdade social em que havia abundância de candidatos para empregos de garçom. Há uma normalidade em preparar e pegar seu próprio café. Apertar o botão do seu andar (ou fazer a gentileza de apertar para um colega) ou esperar dois minutos a mais pelo elevador é completamente aceitável e não justifica contratar ascensoristas para elevadores modernos. Mas aqui na Esplanada e arredores, há quem se gabe: "onde eu trabalho tem garçom pra pra todo mundo!"

Além daqueles que acham normal, bacana, legal, há os que racionalizam: gera empregos. Claro, com dinheiro que não sai do seu bolso, é uma beleza essa geração de empregos. Ainda: por que não ampliar essa lógica ao absurdo? Desistir de fazer capanhas para que ninguém dirija e beba: vai gerar mais empregos para socorristas, mecânicos, donos de ferro-velho, médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, embalsamadores, coveiros.

E, claro, por que não ter mais pessoas servindo os que não precisam ser servidos? É obviamente uma lógica cruel e elitista. Perpetuar a existência de empregos de baixa qualificação com a desculpa de que há quem precise desses empregos. Incentivar a manutenção de uma sociedade em que a diferença de salários é abismal. Manter o status quo (daqui) com uma aura de benfeitor.

Ou talvez seja tudo uma grande conspiração pra acabar com a conversa no bebedouro, na copa, nos corredores. Vai que alguém tem a idéia absurda de discordar do idiota que chama de chefe... 

3 comentários:

  1. Não acredito que perdi o meu tempo lendo este post idiota...

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    1. coragem, burocrata. Coragem. Comentários como o do idiota aí acima, deveriam ser excluídos.
      Sim, a conversa na copa é sempre afiada. E nada bom para o chefe.

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    2. Obrigado. Sim, a conversa na copa é essencial manter em dia a fofoca, os comentários maldosos, as idéias dissonantes, compartilhar as idéias "geniais". Se até isso perdermos um dia, melhor acorrentar logo na mesa.

      Deixo o comentário para dar credibilidade. Já viu blog sem comentários sem conteúdo na internet? rsrs. Podem pensar que eu censuro tanto os que discordam quantos os idiotas. Ambos podem publicar, mas só uma categoria vai ter resposta.

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